Carlos E.Assay
A crença na ressurreição e nas verdades inerentes a ela, motiva-nos a obedecer aos mandamentos, ao arrependimento, a servir ao próximo e a fazer outras coisas que trazem alegria e felicidade.
Há alguns anos, visitei uma casa de repouso para idosos. Os residentes,
na maioria, eram pessoas fisicamente debilitadas, cansadas e ansiosas
por sair dali. Ao passar por um dos quartos ouvi um fraco pedido de
ajuda. A porta estava entreaberta, de maneira que entrei com a esperança
de ajudar alguém com problemas. Já no quarto, fui recebido pelo olhar
suplicante de uma gentil velhinha em uma cadeira de rodas. Olhou-me
fixamente por um instante e perguntou-me: “Posso morrer? Posso morrer?”
O
olhar terno, a voz afável e as feições delicadas comoveram-me.
Obviamente estava sofrendo muita dor física e queria ver-se livre de um
corpo debilitado. Ela sentia falta da companhia dos entes queridos que
partiram antes dela.
Não
me recordo muito bem o que lhe disse na ocasião, mas tentei
assegurar-lhe que poderia e iria morrer no devido tempo do Senhor.
Procurei assegurar-lhe que viveria novamente, livre dos problemas que a
afligiam no momento.
A QUESTÃO REAL
A
questão real que cada um de nós deve enfrentar não é, “Posso morrer?” A
morte é uma das certezas da vida. Ocorre regularmente e é observada nas
notas de falecimento dos jornais e pelas cadeiras vazias em nossas
mesas. Porque assim como o sol se põe ao findar de cada dia de acordo
com o ritmo eterno da vida, também teremos a experiência da separação
temporária do corpo e do espírito; quando nosso tabernáculo de carne
será colocado “na fria e silenciosa sepultura” (2 Néfi 1:14) e nosso espírito será “levado para aquele Deus que lhes deu a vida”. (Alma 40:11.)
Na verdade, porém, a questão real é: “Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” (Jó 14:14). A sepultura selará nosso destino eterno? Ou há uma ressurreição e outra esfera de existência à espera de nossa alma?
Os
que creêm ser o túmulo o destino final do homem, vivem sem a esperança
de um mundo melhor e estão inclinados a adotar aquela atitude fatalista:
“Comei, bebei e diverti-vos ( . . . ) porque amanhã morreremos”. (2 Né. 28:7; ver também I Cor. 15:32.)
Esta atitude quase sempre leva a experiências devassas, à conduta
imoral e a todos os outros comportamentos que resultam em angústia e
remorso. (Ver Alma 29:5.)
Ao
passo que, aqueles que acreditam em vida após a morte estão muito mais
propensos a levar uma vida cheia de propósito. A crença na ressurreição e
nas verdades inerentes a ela, motivam-nos a obedecer aos mandamentos,
ao arrependendimento, a servir ao próximo e a fazer outras coisas que
trazem alegria e felicidade, tanto agora como no mundo vindouro. Logo,
parece apropriado falarmos sobre a questão real, Tornarei a viver? na
véspera da Páscoa—dia em que cristãos do mundo inteiro comemoram a
ressurreição do Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
DUAS CATEGORIAS DE PROVAS
Um
escritor conhecido referiu-se à ressurreição de Cristo como “o maior
milagre e o mais glorioso fato da história”. (James E. Talmage, Jesus, o
Cristo, 1979, p. 676; grifo nosso.)
Os
milagres são “manifestações de poder divino ou espiritual”. [Bible
Dictionary, (Dicionário Bíblico), p. 732.] Eles não são truques ou ações
arquitetados por homens espertos. São atos realizados por indivíduos
com poderes superiores aos dos mortais. O que poderia ser mais grandioso
do que deitar o corpo de alguém na morte e resgatá-lo em um estado
ressurreto, como fez Jesus? Somente através do uso de poderes divinos e
por meio da graça de Deus poderia esta maravilha ocorrer.
E
o que acontece à afirmação de que a ressurreição foi o “acontecimento
mais glorioso da história?” A realidade da Ressurreição pode ser
dividida em duas categorias ou classes. Uma é a grande multidão de
testemunhas que viram o Cristo ressurreto; a outra é um exército de
pessoas que crêem, tanto do passado como do presente, que na força de
testemunhos pessoais declaram com convicção: “A sepultura não tem
vitória e o aguilhão da morte é desfeito em Cristo” (Mosiah 16:8). Ambas
as categorias são importantes e dignas de atenção.
Uma Multidão de Testemunhas
Está
registrado em Atos dos Apóstolos: “Aos quais também, depois de ter
padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo
visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando do que respeita ao
Reino de Deus”. (Atos 1:3; grifo nosso.)
Incluídos
na multidão de testemunhas ou entre as “evidências infalíveis” estão as
centenas de seguidores que viram o Senhor ressurreto em múltiplas
ocasiões.
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“Apareceu primeiramente a Maria Madalena”. (Marcos 16:9.) Ela o viu e ouviu-lhe a voz.
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Apareceu a Joana, Maria (mãe de Tiago) “e outras que com
elas estavam”. (Lucas 24:10.) Elas “abraçaram os seus pés, e o
adoraram”. (Mateus 28:9.)
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Apareceu a Pedro—aquele que o negou três vezes. (Ver Lucas 24:34.)
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Apareceu a dois discípulos quando iam a caminho do campo. (Ver Lucas 24:13-32.)
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Apareceu a seus amados apóstolos pelo menos quatro vezes.
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Foi visto após a crucificação, “uma vez por mais de quinhentos irmãos” (I Cor. 15:6), segundo o registro de Paulo.
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Além disso, “e abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados;
E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos”. (Mateus 27:52-53.)
Além
dessas testemunhas, ainda havia os céticos. Alguns referiram-se às
palavras das mulheres “como desvario”. (Lucas 24:11.) Jesus repreendeu
os dois discípulos, dizendo: “Ó néscios, e tardos de coração para crer
tudo o que os profetas disseram!” (Lucas 24:25.) E repreendeu alguns
“por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado”. (Marcos
16:14.)
Imaginamos
como é possível alguém duvidar da realidade da ressurreição após ter
lido os vários relatos de Sua aparição às mulheres, aos discípulos e aos
apóstolos. Que prova maior poderia alguém exigir do que a documentação
do acontecido apresentada em escritos sagrados?
Há
mais ainda, João escreveu: “O testemunho de dois homens é verdadeiro”.
(João 8:17.) Se esta afirmação é válida, certamente o testemunho de
Cristo haver escapado do túmulo, fornecido por uma segunda nação, não
deve ser ignorado. Refiro-me, naturalmente, ao registro do Livro de
Mórmon a respeito das aparições de Cristo, após Sua morte, no hemisfério
ocidental.
Próximo
ao templo, na terra de Abundância, cerca de 2.500 pessoas ouviram uma
voz suave e penetrante declarar: “Eis aqui meu Filho Bem Amado, no qual
me alegro e no qual glorifiquei meu nome—A Ele deveis ouvir”. (3 Néfi
11:7.) Espantados, eles experimentaram uma mudança no coração ao ouvir
Deus, o Pai Eterno, apresentar o Filho Unigênito—Sua maneira de
transmitir os dons da imortalidade e vida eterna a todos os Seus filhos
(João 3:16).
A
multidão viu um homem descer dos céus. Ouviram-no anunciar, “Eis que
sou Jesus Cristo, cuja vinda ao mundo foi anunciada pelos profetas”. (3
Néfi 11:10.) Em seguida, convidou o povo a se aproximar um a um para ver
com os próprios olhos e sentir com as próprias mãos as marcas dos
cravos em Suas mãos e em Seus pés. (Ver 3 Néfi 11:14-17.)
Uma
multidão de pessoas em dois continentes foi testemunha ocular do Cristo
ressurreto. Portanto, pode-se dizer, a respeito deste glorioso
acontecimento da história, que: “A ressurreição ( . . . ) é comprovada
por evidência mais conclusiva que aquela sobre a qual repousa nossa
aceitação dos fatos históricos em geral”. (James E. Talmage, Jesus, o
Cristo, p. 676.)
Testemunhos Pessoais
“Evidências
infalíveis” de assuntos espirituais, como as da ressurreição de Cristo,
não são feitas pela mão; são sentidas no coração. Não são vistas a olho
nu; são vistas pelos “olhos da fé”. (Éter 12:19.) Tampouco são
estabelecidas pelo toque de um dedo. A realidade dos assuntos
espirituais é confirmada por sentimentos despertados pelas palavras de
Deus, faladas ou escritas. (Ver 1 Néfi 17:45.) Digo isso porque “o
Espírito fala a verdade e não mente. Portanto, fala das coisas como
realmente são e como realmente serão”. (Jacó 4:13.) O Espírito Santo
lida com a realidade, não com acontecimentos fantasiosos.
Lembrai-vos
de que os dois discípulos que caminharam e conversaram com Cristo na
estrada para Emaús não o reconheceram a princípio. Mais tarde, porém,
“abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram”, quando refletiram:
“Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos
falava, e quando nos abria as escrituras?” (Lucas 24:31-32.)
Lembrai-vos
também de que Jesus disse a Tomé: “Não sejas incrédulo, mas crente ( . .
. ) Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e
creram”. (João 20:27, 29.)
Nossos
“olhos da fé” serão também abertos e saberemos com certeza que Ele vive
e que viveremos com Ele novamente, se crermos e aceitarmos o convite
divino: “Anda comigo”. (Ver Moisés 6:34.)
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Sim, andamos com ele no deserto e sentimos sua presença ao jejuar, orar e resistir às tentações.
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Andamos com ele até o poço de Jacó e nosso coração arde quando estudamos as escrituras e bebemos da água da vida.
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Andamos com ele até a Galiléia, quando ensinamos e vivemos a verdade.
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Andamos com ele até o Getsêmani, quando tomamos sobre nós as cargas de outros.
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Caminhamos com ele até o Calvário, quando tomamos nossa
cruz e renegamo-nos a tudo que não for divino e a todo desejo mundano.
(Ver Mateus 16:26.)
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Sofremos com ele no Gólgota quando sacrificamos tempo, talentos e meios para a edificação do reino de Deus.
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Ressuscitamos com ele para uma nova vida ao procurarmos
um renascimento espiritual e esforçarmo-nos por tornar-nos Seus filhos e
filhas.
E,
no processo de seguir Seus passos (ver I Pedro 2:21), obtemos a
convicção pessoal ou a evidência infalível de que Ele vive, que é o
Filho do Deus vivo e é nosso Redentor.
Conclusão
Não
posso voltar àquela velhinha gentil na cadeira de rodas que implorava:
“Posso morrer?” Ela já atravessou a ponte entre a terra e o céu—a ponte a
que chamamos morte. Ela sabe agora, melhor que eu, que morrer e viver
novamente são verdades estabelecidas e, certamente, sabe que: “A morte,
não é um ponto final, mas uma vírgula na história da vida” (Amos John
Traver), pois ela voltou para casa e está envolvida pelos braços do amor
de Deus. (Ver 2 Néfi 1:15.)
Quer
sejamos jovens ou velhos, não devemos ter “temor da morte, graças a
[nossa] fé e esperança em Cristo e na ressurreição; portanto, para [nós]
a morte foi tragada pela morte de Cristo sobre ela” (ver Alma 27:28). Ele é nosso Redentor; ele é: “a ressurreição e a vida”. (João 11:25.)
Presto
solene testemunho de que viveremos novamente! Este testemunho está
alicerçado nas palavras de testemunhas oculares e de profetas modernos
que viram e ouviram o Deus vivo e o Cristo vivo (ver D&C 76:22-24;
PGV 2:17) e em experiências pessoais e sagradas do Espírito acontecidas
ao tentar andar com Deus. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
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